segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O renascer cotidiano

Há sempre um silêncio à espreita
E espreme aqui dentro, causando uma forte dor
Dor que sufoca a garganta, acelera o coração
Dá uma vontade de chorar e correr para qualquer lugar
Mas é preciso amadurecimento
Aquele capaz de transformar o sofrimento de uma desilusão
Em uma força de vontade na superação.

A desilusão vai se desvaindo
A mentira, ou melhor, a omissão do fato, mandada para o relativismo
A confiança esmiuçada, logo é empilhada na caixa de incertezas
Só é retomada se o vazio for preenchido
Mas o criador do vazio é Exu, fruto da criação divina
E para Exu, que tem fé, o perdão domina.

Calar é o exercício da paciência
Chorar é diminuir a força da sombra
Ter amor é não desejar o mal
Ter fé é a certeza que a dor, seja lá qual motivo for,
É um processo de evolução.

Calar, chorar, perdoar, amar...
Verbos a caminho da sabedoria
Um ser em busca de luz
Salve Exu!


Tamires Santana

quarta-feira, 17 de abril de 2013

O Soldado e o Tamanduá




Sou um soldado que gosta de liberar,
E depois de conhecer o Tamanduá,
Fiquei indignado como as pessoas são difíceis de aceitar

Me disseram que um gato tem sete vidas
E pensei se cada um que começar a criticar um gato ganhar,
Terá distrações o suficiente para se preocupar
E assim a nossa vida deixa de vigiar.

Pra não ter erro darei um Pikachu
Assim quando o seu preconceito dominar
Ele te dá um choque de trovão ou uma cabeçada
Pra depois lá na p...q...p... te largar.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Almicar Lopes Cabral inegavelmente uma herança!




Um país pequeno e tão pobre não é interessante para o restante do mundo. A História oficial, infelizmente, procura, sempre que possível, ignorar os menores, mas não menos importantes. Desta forma, libertar-se, derrubar a ditadura vigente e expulsar os dominadores, foram tarefas pertencentes aos próprios revolucionários locais.
Nascido em Bafata (Guiné-Bissau) em 12 de setembro de 1924, Almicar Lopes Cabral foi um revolucionário africano. Fundou, em 19 de setembro de 1956, o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Foi responsável em juntar Cabo Verde e Guiné-Bissau a favor da derrubada do Império Português e estabelecer um governo socialista nos dois países.
Forma-se no Instituto Superior de Engenharia Agrônoma - em 1945 ganhou uma bolsa de estudos em Lisboa, iniciando suas atividades políticas ainda em Portugal. Retorna para Bissau em 1952. Conhecia bem o seu povo, pois o havia estudado por muitos anos. Desejava que as regiões fossem diferentes. Influenciado pelo pensamento Marxista, identificou que a luta necessária seguiria dois componentes fundamentais: a luta nacionalista e a luta de classes, ou seja, ascender um sentimento de pertencimento, de identidade nacional e desprender-se dos vínculos dominantes da colônia portuguesa. 
A dominação provocou uma sistematização da realidade social onde a subordinação era um dos pontos mais fortes, principalmente se tratando da econômica. Herói do povo e líder das lutas armadas contra o Império Português, o revolucionário é assassinado em 20 de janeiro de 1973 em Conacri e o que é pior, por dois membros de sua própria equipe.
Após sua morte as lutas armadas se intensificam e em 24 de setembro de 1973 é proclamada a independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde.
Os problemas das duas nações, obviamente, não cessaram. Cabral foi morto antes de poder ajudar seu povo a superar os dissabores “do dia seguinte”. Os países ainda vivem uma realidade sub-humana. A morte na região é rigorosa e segue um cronograma pontual. Não houve necessariamente uma mudança no panorama social, pois as regiões libertadas foram dominadas por ditadores cruéis e ainda está longe do “humanismo revolucionário” tão almejado pelo líder.
“Estamos diante de um rio bastante agitado e tempestuoso com pessoa que tentam passar e afogam-se, mas elas não têm alternativa, precisam atravessar”. (Almicar Cabral)

Almicar Cabral inegavelmente é uma herança!

Matéria publicada no blog da Comunidade Negra de Francisco Morato: http://comunidadenegrafm.blogspot.com.br/2013/01/almicar-lopes-cabral-revolucionario.html

Tamires Santana

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Enterrem meu coração na curva do rio




"Onde estão hoje os pequots? Onde estão os narragansetts, os moicanos, os pokanokets e muitas outras tribos outrora poderosas de nosso povo? Desapareceram diante da avareza e da opressão do Homem Branco, como a neve diante de um sol de verão. Vamos nos deixar destruir, por nossa vez, sem luta, renunciar a nossas casas, a nossa terra dada pelo Grande Espírito, aos túmulos de nossos mortos e a tudo que nos é caro e sagrado? Sei que vão gritar comigo: NUNCA! NUNCA!".

Frase é do índio Tecumseh, dos Shawneesno e foi lida no 1° capítulo do livro Enterrem meu coração na curva do rio - A dramática história dos índios Norte-Americanos de Dee Brown. Ainda não terminei de ler. Toda uma cultura exterminadas, tribos inteiras dizimadas, muito sangue derramado; tudo em nome do progresso.  Impossível não começar a se perguntar se o mocinho da história é mesmo aquele que Hollywood (mídia)  sempre nos apresentou.

Fazendo um paralelo com os dias de hoje, não apenas com a situação dos indígenas, quantos tantos mandados extra-oficiais a favor do clássico pensamento "índio bom é índio morto" (hoje a frase é "bandido bom é bandido morto"), a simulação dos tratados de paz, o discurso da sociedade civil apoiando massacres, reproduzindo o preconceito institucionalizado e a dissimulação do poder público quanto aos acontecimentos mais mórbidos. 

Estas coisas me faz crer que mudam-se as estratégias, mas a história continua a mesma. 

Foto: Harley Brown (1939, Canadian)

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Fogos de artifício


Por Tamires Santana

A água é indispensável,
E é constantemente ferida pelas criaturas
O ar é influenciado
Seja desde um peido a incansável lareira
A terra é firme
Só que muito sensível às construções
Já o fogo
É simplesmente implacável.

Uns tais de Fogos de Artifício da China chegaram
Em uma data comemorativa se apresentaram.
Saiu de uma cavidade pequena,
Enfrentaram a gravidade,
Estouraram fazendo estardalhaço
E do alto, luzes brilhantes soltaram.

Esses asiáticos...
O fogo lá de baixo só olhou
Até concordou que, se em conjunto, os tais dos fogos de artifício ficam mais encantadores
Mas não ao ponto de o compará-lo.

Passou em alguns lugares,
Consumiu tudo por onde o vento o soprou
E, com isto, seu domínio mostrou.

Apesar dos fogos de artifício queimarem
Servem apenas para comemorar
Enquanto o fogo
Fulminante
Determinado
Voraz
Quarto elemento básico da existência
Não permite se igualar.

Quatro crianças e cinco olhares


Por Tamires Santana


Eram quatro crianças pobres
Três meninos e uma menina
O mais velho assumia o papel de pai e mãe
Pegando na mão
Dando carinho
Prestando atenção.

Um homem entra
Escolhe um assento
Tenta fechar o guarda-chuva
Seguido por cinco olhares curiosos
Não se constrange, é indiferente.
Consegue o feito
Duas estações adiante e desembarca.

Eram oito Havaianas sujas de barro
Pelo menos dois furos em cada roupa de cores desbotada
Peles da noite
Olhares desconfiados
Observadores dos mínimos detalhes
Num rosto sério de quem quer impor respeito.
O acalanto do trem nina os menores
Balança tanto que derruba um par de chinelos.

Criança pobre tem dignidade
Tem inteligência
Capacidade
Integridade
Merece mais consideração
A começar da própria sociedade.

domingo, 30 de dezembro de 2012

A negrinha do sapato vermelho




Por Tamires Santana

Existia no Império de Xingu, na Dinastia de Yapoke (1120 a.c – 1000 a.c) uma mulher fanática por sapatos vermelhos. Tinha muitos, de todas as tonalidades existentes no extenso Império, sem contar tantos outros trazidos por nômades vindos de lugares longínquos. Ficou conhecida como a Negrinha do Sapato Vermelho.

Certa vez, se apaixonou por um homem belo e generoso, dono de muitos livros e de família honrada. Mas o amor, como se deve esperar, não é tão simples de explicar e vivenciar. Este homem era mais velho, o que, para a época, não era favorável para o laço matrimonial.

Acreditava-se que um homem e uma mulher, ao unir-se, por amor ou arranjo da família, deveriam ter no máximo quatro luas de diferença um do outro e, prioritariamente, o homem deve ser o mais velho para acompanhar a mente avançada da mulher. A tradição também dizia que o casal deve envelhecer junto.

O homem era bom, talentoso e dono de uma habilidosa oratória, fator reconhecido pela cultura do Império naquela época, porém, tinha uma marca triste em sua vida: uma desilusão amorosa. Há dois anos o homem havia entregue seu coração a uma forasteira vinda de Palpam. Os dois planejaram o casamento, até que certo dia a mulher fugiu com o Príncipe Temor, não sendo encontrada. O homem, desde então, nunca mais foi o mesmo.

Negrinha do Sapato Vermelho, mesmo tendo conhecimento desta triste história, não desistiu e prosseguiu na tentativa em conquistar o amor de sua vida. Costumava ir, todos os dias, pedir orientação a deusa Afrodite, debaixo de uma Reza Missa, ao por do sol. Numa dessas ocasiões, se deparou com um sábio. Resolveu pedir conselhos ao velho desejando orientação em como conquistar o amor do homem.

Calmamente, o griot, após tomar conhecimento do caso, conclui: não deve-se jogar pérolas aos porcos. Desapontada com a recomendação, Negrinha do Sapato Vermelho fixou a ideia de que poderia mudar o destino, mesmo após a vidência de um sábio.

Desejou do fundo do seu coração o amor daquele homem enquanto calçava um par de sapato vermelho cor de sangue. Atingido pela cor o homem ao vê-la lembrou-se de sangue, sangue lembrou de coração, de coração lembrou de amor e olhou nos olhos da jovem. Percebeu que anos havia se passado e ele vivia amargurado. E assim, apaixonou-se apenas pela metade da Negrinha do Sapato Vermelho. 

Convicta de que havia conquistado o amor quem mais desejava, Negrinha do Sapato Vermelho parou de comprar sapatos vermelhos. Sua vida voltava-se totalmente para quem tanto amava e com  tamanha ocupação palavras, pensamentos e ações eram apenas sobre e para ele. Deixou até de comprar sapatos vermelhos e com isto, ia deixando de ser ela mesma.

Ano se passaram, o homem envelhecia mais e mais. E a paixão por ele não cessava. Até que, a mulher do passado aparece no presente. Tudo se abala e fica inseguro. A forasteira exige o coração do homem de volta e agora pede pra que ele vá com ela. Eis que o homem se decide e vai viver o seu grande amor, deixando Negrinha dos Sapatos Vermelhos. O conselho do sábio finalmente se concretiza. A Negrinha do Sapato Vermelho não tem mais vida. De vermelho passou a viver o resto dos seus dias cinza.